Por Lucas Carniel
Ouvia-se de longe o barulho alucinado das teclas por detrás das portas de escritórios, órgãos públicos, redações de jornais... Num passado não muito distante, a máquina de escrever era acessório indispensável para o trabalho de muita gente. No dia 24 de maio é comemorado o Dia do Datilógrafo
Entrar na Clínica das Máquinas, de propriedade de Elcio Marafon, é fazer uma viagem no tempo. Calculadoras de manivelas antiguíssimas, precursoras das modernas HPs, balanças de supermercados, computadores da década de 90 e centenas de outras peças de máquinas que um nascido no século XXI não faria a menor ideia do que era ou para que eram usadas. Mas o acessório que merece destaque e até mesmo certo carinho no comércio de seu Elcio é a máquina de escrever. Olivetti’s, Ramigton’s, Facit’s, dezenas de marcas de máquinas que foram responsáveis pela elaboração de documentos, memorandos, textos jornalísticos e, quem sabe, românticas cartas de amor datilografadas com toda a fúria, fazendo aquele barulho característico (tec tec tec tec...) que só quem teve o prazer de elaborar na boa e velha máquina de escrever sabe como é. Para onde se olha, um pedaço do passado da história de Francisco Beltrão é lembrado e contado pelo mecânico, que não esconde a saudade que sente do tempo em que eram feitos coquetéis de lançamentos para as máquinas mais modernas e quem não tivesse um curso de datilografia (feito na extinta Escola de Datilografia Silvana, em cima de onde hoje é a loja de calçados Zariff) dificilmente arranjaria um bom emprego.
“No fim da década de 70 trabalhava na Comagil, que vendia e consertava máquinas de escrever para toda a região Sudoeste. Eu limpava as máquinas com um banho químico e fazia manutenção das mesmas em toda a região”, recorda. “Naquele tempo máquina de escrever era o auge, todo mundo queria ter uma. Os filhos sonhavam com elas para o presente de Natal ou de aniversário e quando ganhavam era uma alegria só”, lembra Elcio, que até hoje vende máquinas de escrever usadas.
Ouvia-se de longe o barulho alucinado das teclas por detrás das portas de escritórios, órgãos públicos, redações de jornais... Num passado não muito distante, a máquina de escrever era acessório indispensável para o trabalho de muita gente. No dia 24 de maio é comemorado o Dia do Datilógrafo
Entrar na Clínica das Máquinas, de propriedade de Elcio Marafon, é fazer uma viagem no tempo. Calculadoras de manivelas antiguíssimas, precursoras das modernas HPs, balanças de supermercados, computadores da década de 90 e centenas de outras peças de máquinas que um nascido no século XXI não faria a menor ideia do que era ou para que eram usadas. Mas o acessório que merece destaque e até mesmo certo carinho no comércio de seu Elcio é a máquina de escrever. Olivetti’s, Ramigton’s, Facit’s, dezenas de marcas de máquinas que foram responsáveis pela elaboração de documentos, memorandos, textos jornalísticos e, quem sabe, românticas cartas de amor datilografadas com toda a fúria, fazendo aquele barulho característico (tec tec tec tec...) que só quem teve o prazer de elaborar na boa e velha máquina de escrever sabe como é. Para onde se olha, um pedaço do passado da história de Francisco Beltrão é lembrado e contado pelo mecânico, que não esconde a saudade que sente do tempo em que eram feitos coquetéis de lançamentos para as máquinas mais modernas e quem não tivesse um curso de datilografia (feito na extinta Escola de Datilografia Silvana, em cima de onde hoje é a loja de calçados Zariff) dificilmente arranjaria um bom emprego.
“No fim da década de 70 trabalhava na Comagil, que vendia e consertava máquinas de escrever para toda a região Sudoeste. Eu limpava as máquinas com um banho químico e fazia manutenção das mesmas em toda a região”, recorda. “Naquele tempo máquina de escrever era o auge, todo mundo queria ter uma. Os filhos sonhavam com elas para o presente de Natal ou de aniversário e quando ganhavam era uma alegria só”, lembra Elcio, que até hoje vende máquinas de escrever usadas.
Cursos de mecânica em São Paulo , na empresa Olivetti, clássica marca de máquinas, fazem parte do currículo dele, prova da importância de seu trabalho para as empresas e pessoas que tinham uma máquina de escrever. “As vendas, principalmente entre os anos 1978 e 1985 eram intensas. Toda semana pelo menos trinta máquinas eram vendidas, sem contar as várias manutenções que fazíamos todos os dias. Na cooperativa Coagro, de Capanema, que tinha centenas de máquinas, a gente começava a fazer a manutenção no começo de novembro e só acabava no final de dezembro”, recorda.
Silêncio, rapidez e modernidade
O lançamento da máquina de escrever eletrônica, em 1983, foi o começo de uma era de modernidade, rapidez e silêncio, pois elas não faziam aquele barulho estridente. Seu lançamento no município teve até coquetel, como contará em breve nossa próxima entrevistada. Mas por enquanto, vamos nos ater às memórias de seu Elcio. “As máquinas de escrever eletrônicas eram bem mais confortáveis, diminuíam os esforços para bater na tecla, mudar as maiúsculas paras as minúsculas e recuar o carro. Eram bem parecidas com os computadores, embora não tivessem acesso à internet. Elas tinham alguns acessórios adicionais que as antigas não tinham, tais como corretor automático, no caso de um erro. Caso houvesse um equivoco na datilografia, com as máquinas mais velhas, tinha que se usar uma papelete corretivo ou, no caso das mais antigas ainda, um corretor líquido ou o velho lápis borracha”, descreve o mecânico, enfatizando que a sujeira era grande causadora de estragos nas máquinas. “Isso soltava as letras(tipos) e estragava os teclados. Embora muita gente que tivesse comprado recentemente se enganava e a colocava no modo neutro, então, quando ia datilografar, a folha saia em branco ou colocava a tinta vermelha com o intuito de escrever com tinta preta e vice-versa”, comenta.
Comprou uma máquina de lavar com o dinheiro da manutenção
Para se comprar uma máquina de escrever nova, hoje, o preço gira em torno de 800 reais, enquanto uma velha, 250. Entretanto, antigamente, os preços eram equiparáveis aos computadores, cerca de 1.200 reais. “As manutenções tinham que ser feitas a cada sessenta dias, mas de vez em quando era bom dar uma passada na loja para fazer um check-up. Lembro que com o pagamento de uma revisão que fiz em um estabelecimento consegui comprar uma máquina de lavar roupa à vista”.
O advento do computador e, principalmente, da internet, quase fez morrer as máquinas. Porém, para alguns nostálgicos, ela é insubstituível e isso é o que não as deixa desaparecer das prateleiras da Casa das Máquinas. “Ontem mesmo (quinta-feira) fui fazer uma entrega de máquinas para a empresa Folem, de Enéas Marques, isso não deixa que as máquinas de escrever morram. Claro que o movimento caiu muito nestes últimos anos, mas a gente ainda vai continuar comercializando”, enfatiza ele, destacando que a loja teve que começar a se adequar aos aparelhos cada vez mais modernos que iam surgindo com o passar do tempo. “Conforme o movimento para compra da máquina de escrever foi caindo, tivemos que começar a comercializar outros produtos, como balanças eletrônicas, impressoras, no entanto, as máquinas continuam a ter lugar de destaque aqui na loja”, afirma.
Curso de datilografia ainda é importante
Muitas pessoas se lembram da Escola de Datilografia Silvana, responsável pela formação de centenas de pessoas entre os anos de 1972 e 1994. A reportagem entrou em contato com a diretora da escola, Edi Adiles Sangaletti, que lembra com muito carinho o tempo que dava aulas de datilografia. “Antes de abrirmos nossa escola só tinha aulas de datilografia no Colégio Nossa Senhora da Glória. Então percebi a necessidade e a importância que principalmente os jovens de Beltrão tivessem esse curso, que era um importante passo para a entrada no mercado de trabalho”, descreve Edi. “Abrir a escola foi a melhor coisa que fiz, por que muitas pessoas saíram preparadas da escola e hoje têm empregos excelentes. Fico muito contente quando encontro meus alunos na rua e vejo que eles têm um bom emprego”, acrescenta.
Quem tinha um diploma da Escola Silvana, (diploma reconhecido pela Secretaria do Estado de Educação) podia ter ótimos empregos, mas nada disso era em vão, pois as aulas eram consideradas bastante rigorosas. “Colocávamos uma tabulação em cima do teclado para que eles não olhassem para baixo na hora de datilografar e gravassem na memória as posições. Depois que eles sabiam onde estava cada letra, começavam a datilografar textos”. O curso durava em média três meses. “Depois de tudo feito eles prestavam o exame, se tirassem boas notas ganhavam o certificado de conclusão, caso contrário tinham que fazer quantas vezes fosse necessário, até que fossem aprovados”.
Ela lembra com muito carinho dos ex-alunos. “Tive muitos. Com certeza mais de 1.000. Era maravilhoso dar aula, porque nunca me incomodei, sempre tive alunos muito bons e educados e a maioria era bastante esforçada e concentrada, apesar de alguns insistirem em olhar por debaixo da tabulação. Apesar disso, poucos não passavam nos exames com boas notas”. Para a ex-professora o curso de datilografia ainda é importante. “Os jovens de hoje não sabem posicionar os dez dedos e muitos não conseguem digitar sem olhar para o teclado. Por isso acho que o curso de datilografia ou o de digitação é muito importante”.
Ela fechou a escola por motivos de saúde, entretanto, o novo proprietário não deu continuidade às aulas. Os 22 anos que a escola funcionou serviram para capacitar gerações de famílias. “Advogados, médicos, até o prefeito passou pela minha escola. É a época da minha vida que mais tenho saudade”, complementa.
"A gente nem sonhava com a informatização"
A nota 6,0 obtida na Escola Silvana, por Marlei Terezinha Silva, foi conquistada a troco de muito esforço. “Trabalhava como repositora num supermercado, ia para o curso (que era três vezes por semana) e depois saia correndo para não perder a hora na escola”, comenta Marlei .
O certificado de conclusão do curso foi o suficiente para que Marlei, hoje secretária da Acamsop-13 (Associação das Câmaras do Sudoeste do Paraná) mudasse de emprego. “Ter o diploma da Escola Silvana era quase como ser doutor. Ficava muito mais fácil para arrumar um emprego. Depois de acabado o curso comecei a trabalhar no escritório da extinta Livraria Irmãos Menon, onde fazia faturamentos, duplicatas, tudo isso feito pela máquina de escrever”.
Marlei lembra que o lançamento da máquina de escrever eletrônica, de marca Olivetti, em Francisco Beltrão foi feito com um coquetel na Comagil. “Veio até algumas moças da Olivetti de Curitiba para explicar como funcionava a máquina. Foi uma festa muito grande e isso em meados dos anos 80, num passado não tão distante assim, mas a gente nem sonhava com a informatização. Poucos anos depois começaram a vir os computadores e as máquinas de escrever perderam um pouco seu brilho”.
Quando Marlei começou a trabalhar na Acamsop ainda se usava a máquina de escrever eletrônica, presente até hoje na sala da secretaria, dividindo espaço com um moderno micro computador. “Mas foi no curso que aprendi a datilografar o que facilitou muito para aprender a digitar no computador”, reconhece.
Silêncio, rapidez e modernidade
O lançamento da máquina de escrever eletrônica, em 1983, foi o começo de uma era de modernidade, rapidez e silêncio, pois elas não faziam aquele barulho estridente. Seu lançamento no município teve até coquetel, como contará em breve nossa próxima entrevistada. Mas por enquanto, vamos nos ater às memórias de seu Elcio. “As máquinas de escrever eletrônicas eram bem mais confortáveis, diminuíam os esforços para bater na tecla, mudar as maiúsculas paras as minúsculas e recuar o carro. Eram bem parecidas com os computadores, embora não tivessem acesso à internet. Elas tinham alguns acessórios adicionais que as antigas não tinham, tais como corretor automático, no caso de um erro. Caso houvesse um equivoco na datilografia, com as máquinas mais velhas, tinha que se usar uma papelete corretivo ou, no caso das mais antigas ainda, um corretor líquido ou o velho lápis borracha”, descreve o mecânico, enfatizando que a sujeira era grande causadora de estragos nas máquinas. “Isso soltava as letras(tipos) e estragava os teclados. Embora muita gente que tivesse comprado recentemente se enganava e a colocava no modo neutro, então, quando ia datilografar, a folha saia em branco ou colocava a tinta vermelha com o intuito de escrever com tinta preta e vice-versa”, comenta.
Comprou uma máquina de lavar com o dinheiro da manutenção
Para se comprar uma máquina de escrever nova, hoje, o preço gira em torno de 800 reais, enquanto uma velha, 250. Entretanto, antigamente, os preços eram equiparáveis aos computadores, cerca de 1.200 reais. “As manutenções tinham que ser feitas a cada sessenta dias, mas de vez em quando era bom dar uma passada na loja para fazer um check-up. Lembro que com o pagamento de uma revisão que fiz em um estabelecimento consegui comprar uma máquina de lavar roupa à vista”.
O advento do computador e, principalmente, da internet, quase fez morrer as máquinas. Porém, para alguns nostálgicos, ela é insubstituível e isso é o que não as deixa desaparecer das prateleiras da Casa das Máquinas. “Ontem mesmo (quinta-feira) fui fazer uma entrega de máquinas para a empresa Folem, de Enéas Marques, isso não deixa que as máquinas de escrever morram. Claro que o movimento caiu muito nestes últimos anos, mas a gente ainda vai continuar comercializando”, enfatiza ele, destacando que a loja teve que começar a se adequar aos aparelhos cada vez mais modernos que iam surgindo com o passar do tempo. “Conforme o movimento para compra da máquina de escrever foi caindo, tivemos que começar a comercializar outros produtos, como balanças eletrônicas, impressoras, no entanto, as máquinas continuam a ter lugar de destaque aqui na loja”, afirma.
Curso de datilografia ainda é importante
Muitas pessoas se lembram da Escola de Datilografia Silvana, responsável pela formação de centenas de pessoas entre os anos de 1972 e 1994. A reportagem entrou em contato com a diretora da escola, Edi Adiles Sangaletti, que lembra com muito carinho o tempo que dava aulas de datilografia. “Antes de abrirmos nossa escola só tinha aulas de datilografia no Colégio Nossa Senhora da Glória. Então percebi a necessidade e a importância que principalmente os jovens de Beltrão tivessem esse curso, que era um importante passo para a entrada no mercado de trabalho”, descreve Edi. “Abrir a escola foi a melhor coisa que fiz, por que muitas pessoas saíram preparadas da escola e hoje têm empregos excelentes. Fico muito contente quando encontro meus alunos na rua e vejo que eles têm um bom emprego”, acrescenta.
Quem tinha um diploma da Escola Silvana, (diploma reconhecido pela Secretaria do Estado de Educação) podia ter ótimos empregos, mas nada disso era em vão, pois as aulas eram consideradas bastante rigorosas. “Colocávamos uma tabulação em cima do teclado para que eles não olhassem para baixo na hora de datilografar e gravassem na memória as posições. Depois que eles sabiam onde estava cada letra, começavam a datilografar textos”. O curso durava em média três meses. “Depois de tudo feito eles prestavam o exame, se tirassem boas notas ganhavam o certificado de conclusão, caso contrário tinham que fazer quantas vezes fosse necessário, até que fossem aprovados”.
Ela lembra com muito carinho dos ex-alunos. “Tive muitos. Com certeza mais de 1.000. Era maravilhoso dar aula, porque nunca me incomodei, sempre tive alunos muito bons e educados e a maioria era bastante esforçada e concentrada, apesar de alguns insistirem em olhar por debaixo da tabulação. Apesar disso, poucos não passavam nos exames com boas notas”. Para a ex-professora o curso de datilografia ainda é importante. “Os jovens de hoje não sabem posicionar os dez dedos e muitos não conseguem digitar sem olhar para o teclado. Por isso acho que o curso de datilografia ou o de digitação é muito importante”.
Ela fechou a escola por motivos de saúde, entretanto, o novo proprietário não deu continuidade às aulas. Os 22 anos que a escola funcionou serviram para capacitar gerações de famílias. “Advogados, médicos, até o prefeito passou pela minha escola. É a época da minha vida que mais tenho saudade”, complementa.
"A gente nem sonhava com a informatização"
A nota 6,0 obtida na Escola Silvana, por Marlei Terezinha Silva, foi conquistada a troco de muito esforço. “Trabalhava como repositora num supermercado, ia para o curso (que era três vezes por semana) e depois saia correndo para não perder a hora na escola”, comenta Marlei .
O certificado de conclusão do curso foi o suficiente para que Marlei, hoje secretária da Acamsop-13 (Associação das Câmaras do Sudoeste do Paraná) mudasse de emprego. “Ter o diploma da Escola Silvana era quase como ser doutor. Ficava muito mais fácil para arrumar um emprego. Depois de acabado o curso comecei a trabalhar no escritório da extinta Livraria Irmãos Menon, onde fazia faturamentos, duplicatas, tudo isso feito pela máquina de escrever”.
Marlei lembra que o lançamento da máquina de escrever eletrônica, de marca Olivetti, em Francisco Beltrão foi feito com um coquetel na Comagil. “Veio até algumas moças da Olivetti de Curitiba para explicar como funcionava a máquina. Foi uma festa muito grande e isso em meados dos anos 80, num passado não tão distante assim, mas a gente nem sonhava com a informatização. Poucos anos depois começaram a vir os computadores e as máquinas de escrever perderam um pouco seu brilho”.
Quando Marlei começou a trabalhar na Acamsop ainda se usava a máquina de escrever eletrônica, presente até hoje na sala da secretaria, dividindo espaço com um moderno micro computador. “Mas foi no curso que aprendi a datilografar o que facilitou muito para aprender a digitar no computador”, reconhece.
*Matéria publicada na edição de sábado (16-05) do Jornal Aqui Sudoeste
2 comentários:
Matou-a-pau Lucas.
Sabia que aqui na empresa é usada uma Olivetti LINEA 98?
É mais para preencher recibos, ou anotações que se escritas a mão podem ficar ilegíveis.
Abraço
hushaushaas Dizem que essa era uma das melhores. Depois lançou a elétrica que foi a grande sensação
Mas valeu ai cara!!!
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