quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Música, a arte em favor da saúde

A música curativa

A idéia de que a música afeta a saúde e o bem-estar das pessoas já era conhecida por Aristóteles e Platão. Somente na segunda metade do século 20, porém, os médicos conseguiram estabelecer uma relação entre a música e a recuperação de seus pacientes.

No final da Segunda Guerra Mundial, músicos foram chamados para tocar em hospitais como forma de auxiliar o tratamento dos feridos. Como a experiência surtiu resultados positivos, as autoridades médicas dos Estados Unidos decidiram habilitar profissionais para utilizar criteriosamente a música como terapia. O primeiro curso de musicoterapia foi criado em 1944, na Universidade Estadual de Michigan.

O início

A palavra música é de origem grega, "musiké", e designava não só a melodia executada através de instrumentos, mas também o canto e a dança. As três artes apresentavam-se ligadas, nos tempos antigos, tendo sido apreciadas por ricos e pobres, indistintamente, em todas as civilizações. Os egípcios, os sumérios, os assírios, os fenícios, os judeus, os chineses inventaram os antepassados de nossos instrumentos musicais. Os gregos gostavam muito de música, tanto que chegaram a preparar belos festivais por ocasião das grandes cerimônias religiosas e introduziram o canto coral nos espetáculos teatrais.

Os primeiros cristãos não apreciavam as músicas pagãs e, para louvar a Deus, mandavam executar nas igrejas apenas cantos simples e puros como suas preces, sem nenhum acompanhamento musical. Somente no século IX permitiram a introdução de um instrumento poderoso, de grande efeito, que produz sons quentes e plenos, semelhantes aos emitidos pela voz humana: o órgão. Seus cantos, singelos e austeros, um pouco arrastados e monótonos, tinham como função explicar as várias fases da missa aos fiéis e fazê-los participar mais diretamente das cerimônias religiosas. Papas e bispos compuseram vários hinos. Entre os primeiros hinógrafos encontra-se o bispo de Milão, Santo Ambrósio, que viveu no século IV. As regras do canto litúrgico foram fixadas no século VI pelo papa Gregório Magno. Por esta razão este canto é chamado Canto Gregoriano.

Os testes evidenciam

Testes realizados no Laboratório de Neurofisiologia Clínica do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP) evidenciaram o poder da música sobre a atividade elétrica cerebral.

Durante seis meses, os pesquisadores analisaram as reações do cérebro, as condições da laringe e o poder de acústica da voz dos dois grupos de pessoas (cantores e não-cantores), utilizando técnicas e equipamentos como Eletro-encefalograma, para o mapeamento cerebral, e um analisador acústico digital.

A análise dos cantores líricos, enquanto cantavam, mostrou ativação da região frontal esquerda. Esta área do cérebro está relacionada com processos de verbalização, atenção e emoções positivas, como alegria e prazer. Também foi observada a ativação da região temporal direita que é relacionada à cognição musical.

Os pesquisadores comentam que foi observada também uma ativação das áreas relacionadas à linguagem. Este fato sugere que a estimulação musical precoce possa levar a um melhor domínio da linguagem verbal. "Se a criança for estimulada desde cedo com a música, ela vai desenvolver partes do cérebro mais do que outras" concluem.

Vários estudos têm demonstrado os efeitos do treinamento musical não só na habilidade verbal, mas também em outros domínios como matemática, raciocínio espacial, coordenação motora e sensibilidade. Pesquisadores americanos observaram que a estimulação musical precoce (antes dos sete anos de idade) pode levar a um maior desenvolvimento tanto anatômico (aumento de tamanho do cérebro) como funcional (maior atividade dos neurônios) de algumas áreas do cérebro.

Memória e atenção redobradas

Pesquisadores da universidade canadense McMaster compararam durante um ano crianças com idades entre 4 e 6 anos que tinham aulas de música com outras que não tinham.

Eles descobriram que o grupo que tinha aulas de música tinha desempenho melhor em testes de memória - desenvolvidos também para avaliar as habilidades da criança em alfabetização e matemática. O estudo, publicado na revista científica online Brain, também mediu as mudanças nas respostas cerebrais das crianças a sons.

Os pesquisadores identificaram mudanças no grupo “musical” em um período de até quatro meses. “Este é o primeiro estudo que mostra que as respostas do cérebro em crianças jovens treinadas e não treinadas musicalmente evoluem de forma diferente no período de um ano”, diz o pesquisador-chefe Laurel Trainor.

Música analgésica

Uma pesquisa feita nos Estados Unidos confirmou que ouvir música pode ter um efeito positivo sobre pessoas que sofrem de dores crônicas. A equipe de pesquisadores testou os efeitos de música em 60 pacientes que há anos sofriam de dores crônicas.

De acordo com o estudo, divulgado pela publicação especializada Journal of Advanced Nursing, a redução dos níveis de dor daqueles que ouviam música foi 21% superior do que a dos que não ouviam. O índice dos que sentiam depressão em decorrência da dor crônica também diminuiu 25%, enquanto que o índice dos que não escutavam música com regularidade permaneceu inalterado.

Os participantes da pesquisa foram pessoas que vinham sofrendo de condições como osteoartrite, problemas de disco e artrite reumática há mais de seis anos.

"Nossas conclusões mostraram que ouvir música tem um efeito estatístico considerável, reduzindo sensações de dor, depressão e incapacidade e aumentando sensações de poder.”, afirma a Dra. Sandra Siedlkecki, da Cleveland Clinic Foundation, instituição por trás do estudo.

Sono perfeito

Apenas 45 minutos de música relaxante antes de dormir podem ser o suficiente para garantir uma boa noite de sono, segundo pesquisadores de Taiwan. Os especialistas avaliaram os padrões de sono de 60 pacientes, todos com problemas para dormir.

Eles disseram ao Journal of Advanced Nursing que a técnica é fácil de aprender e não tem os efeitos colaterais de outros tratamentos.

Os participantes da pesquisa podiam escolher entre ouvir música ou nada antes de dormir. Os que optaram pela música podiam escolher entre cinco tipos diferentes de música suave, lenta, como jazz, músicas folclóricas ou de orquestra.

As pessoas do grupo que ouvia música comunicaram uma melhora de 35% no seu sono, incluindo uma noite de sono mais longa e melhor e menos disfunções durante o dia.

Ouvir música provoca mudanças físicas que ajudam o sono repousante, incluindo ritmo mais baixo de respiração e do coração, segundo os pesquisadores.

Os sentidos

A execução de um instrumento musical qualquer exige uma percepção dedicada de todos os sentidos. Quando um músico em uma orquestra, por exemplo, lê a partitura, está distinguindo diversas formas espaciais de tamanhos milimétricos, exigindo um refinamento do sentido da visão. Além disso, ele tem de diferenciar diversas modalidades de som, como timbre, ritmo e intensidade sonora.

Um dos maiores benefícios contínuos da educação musical, portanto, é o delicado balanço do desenvolvimento do sistema sensorial por meio da estimulação simultânea dos sentidos. Esse tipo de estimulação forma redes de neurônios ricas no córtex de associação do cérebro.

O efeito Mozart

O Efeito Mozart é um termo cunhado por Alfred A. Tomatis para um alegado aumento no desenvolvimento cerebral que ocorre em crianças com menos de 3 anos, quando elas ouvem música de Wolfgang Amadeus Mozart. A idéia do Efeito Mozart surgiu em 1993 na Universidade da Califórnia, em Irvine, com o físico Gordon Shaw e Frances Rauscher, uma expert em desenvolvimento cognitivo. Eles estudaram os efeitos sobre algumas dúzias de estudantes universitários de escutar aos primeiros 10 minutos da Sonata Para Dois Pianos em Ré Maior (K.448) de Mozart. Eles encontraram um melhoramento temporário do raciocínio espaço-temporal, conforme medido pelo teste Stanford-Binet de QI. Ninguém mais foi capaz de reproduzir seus resultados. Pelo menos um pesquisador descobriu que ouvir Mozart torna algumas pessoas mais burras (Halpern). Outro comentou que "o máximo que poderia ser dito a respeito da experiência deles seria que ouvir a um mau Mozart melhora o QI de curto-prazo" (Linton). Rauscher prosseguiu para o estudo dos efeitos de Mozart sobre ratos. Ambos Shaw e Rauscher têm especulado que a exposição a Mozart melhora o raciocínio espacial e a memória em humanos.Em 1997, Rauscher e Shaw anunciaram ter provas científicas de que instrução em piano e canto são superiores a instrução em computação para aumentar as habilidades de raciocínio abstrato em crianças.A experiência incluiu três grupos de pré-escolares: um grupo recebeu aulas particulares de piano/teclado e aulas de canto; um segundo grupo recebeu aulas particulares de computação; e um terceiro grupo não recebeu nenhum treinamento. Aquelas crianças que receberam treinamento em piano/teclado tiveram desempenho 34% melhor, em testes medindo habilidade espaço-temporal, que os outros. Estas descobertas indicam que a música melhora de forma única as altas funções cerebrais exigidas pela matemática, xadrez, ciência e engenharia.

Entrevistas

Simone de Miranda, beltronense, 18 anos, é caloura no curso de música da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), era professora na escola de música de sua tia Luciane, a Arte & Som, e foi lá que deu seus primeiros passos, influenciada também por sua mãe. Simone, que prefere músicas nacionais, começou aprendendo piano e teve aulas de musicalização. Razão e emoção explicam o seu gosto pela música. “Além de ser uma ótima forma de expressão ela também é muito interessante em seus conceitos”, diz ela. “Me refugio constantemente na música”.Você acha que o gosto por um estilo pode decifrar o comportamento ou o temperamento de uma pessoa? Sim. Por que as pessoas vão ouvir algo que se identifique com elas mesmas.Simone defende que a música deveria ser uma disciplina na escola alegando que o desenvolvimento dos alunos seria maior.

Pedro Henrique Leite, beltronense, 20 anos, estudante de direito em Curitiba, teve influência de seu avô, Heitor Ferreira Leite, primeiro músico instrumentista de Francisco Beltrão, as especialidades deste eram violino, violão clássico, trompete, sax e acordeom. “Com ele aprendi as coisas básicas da música e principalmente a gostar da produzir música”, diz. Você acha que o gosto por determinados estilos pode falar da personalidade e do temperamento da pessoa? “Obviamente. Balzac dizia que o homem é o que come. Alguns estilistas modernos - em defesa de sua categoria, é claro - dizem que o homem é o que ele veste. Outros, todavia, dizem que o homem é o que ele ouve. É claro que essa regra não se aplica integralmente, mas quando se fala em influências, tudo vale. Basta ver como se comporta um aficionado pelo Metal do Inferno de IronMaiden, em relação a uma a um admirador do mesmo "HELL SONG", das mãos de Ludwig Van Bethoven.”


João Pedro Busetti, 20 anos, beltronense e estudante de arquitetura em Curitiba, diz que foi influenciado por seu irmão quando este comprou uma guitarra. “Cada um tem sua particularidade, é complicado preferir um instrumento, mas um violão bem tocado sempre cai bem.” João, que hoje prefere ouvir músicas nacionais, diz que a música já é utilizada pedagogicamente em muitos lugares e que há um manifesto pela implantação do ensino de música nas escolas. Quanto às propriedades curativas da música, diz que se refugia ouvindo música quando envolvido por tristezas, más sempre com a cabeça no lugar. “A música prova que nós não somos tão diferentes quanto imaginamos, todos são tocados de alguma forma pela música.” argumenta ainda.

Fabíola Pereira é beltronense e estuda direito no Cesul, é professora de Técnica Vocal e Violão da escola de música Arte & Som. Ela diz que foi influenciada pelo pai que quis que ela fizesse aulas de violão, embora, hoje, ela prefira o piano. Quando perguntado a preferência quanto a músicas nacionais ou internacionais, ela diz “Não da pra dizer o que eu prefiro em relação a músicas nacionais e internacionais, ambas têm muita coisa boa como muita coisa ruim. Estou num momento muito Elis Regina.Ela também apóia que a música deveria ser matéria na escola ou ao menos usada para disciplinar ou sensibilizar os alunos.

Segundo Fabíola, o gosto por determinados estilos, pode dizer muito da pessoa e até da maneira que ela se veste. “Quando eu estou triste procuro muito a música, ela ajuda a aliviar toda aquela dor, você precisa expressar aquilo, é uma forma de alívio, de desabafo.”, acrescenta.