segunda-feira, 13 de abril de 2009

A decadência da Música Popular Brasileira

Década de 10
O rapaz de terno branco colete e, no exagero que só os apaixonados entendem, um cravo ou rosa na lapela, embaixo da janela de sua adorada, entoa: Tão longe, de mim distante, onde irá, onde irá teu pensamento? Quisera saber agora se esqueceste, se esqueceste o juramento. Quem sabe se és constante, se ainda é meu teu pensamento e minh'alma toda de fora, da saudade, agora tormento!"


Década de 20
Ele, ainda com o inseparável terno branco e um chapéu digno dos boêmios apaixonados, embaixo do sobrado da adorada, canta: "O linda imagem de mulher que me seduz! Ah, se eu pudesse tu estarias num altar! És a rainha dos meus sonhos..."

Década de 30
De terno cinza e chapéu panamá, em frente à vila dela, entoa a plenos pulmões: "Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa! Do amor por Deus esculturada. És formada com o ardor da alma da mais linda flor...”

Década de 40
Os tempos há muito que mudaram, ele ajeita seu relógio na algibreira, escreve para a Rádio Nacional e oferece para a amada os seguintes versos românticos: "A deusa da minha rua, tem os olhos onde a lua, costuma se embriagar. Nos seus olhos eu suponho, que o sol num dourado sonho, vai claridade buscar".

Década de 50
Ele pede ao cantor da boate que ofereça a ela a interpretação de uma lindíssima Bossa: Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça. É ela a menina que vem e que passa, no doce balanço a caminho do mar. Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema...”

Década de 60
O mundo é sacudido pelo começo de uma onda de manifestações estudantis, Ditadura (ou Ditabranda, como ridiculamente citou o jornal Folha de São Paulo, mas isso não vem ao caso agora rsss) e ele aparece na casa dela com um disco embaixo dos braços, ajeita a calça Lee e coloca na Vitrola o símbolo da Jovem Guarda: "Nem mesmo o céu, nem as estrelas, nem mesmo o mar e o infinito não é maior que o meu amor, nem mais bonito. Me desespero a procurar alguma forma de lhe falar, como é grande o meu amor por você...".

Década de 70
Ele chega na casa da mina de Kombi, com tala larga, sacode o cabelão estilo "paz e amor, bicho", abre a porta prá ela entrar e bota AQUELE melô jóia no toca-fitas: "Foi assim, como ver o mar, primeira vez que os meus olhos se viram no teu olhar... Quando eu mergulhei no azul do mar, sabia que era amor e vinha pra ficar...".

Década de 80
Ele telefona pra ela e deixa rolar um: "Fonte de mel, nos olhos de gueixa, Kabuki, máscara. Choque entre o azul e o cacho de acácias, luz das acácias, você é mãe do sol. Linda...".

Década de 90
Ele liga pra ela e deixa gravada na secretária-eletrônica: "Bem que se quis, depois de tudo ainda ser feliz. Mas já não há caminhos pra voltar. E o que é que a vida fez da nossa vida? O que é que a gente não faz por amor?".


No ano 2000

Ele para o chevetinho 81 rebaixado e no mais alto volume solta o som: "Tchutchuca! Vem aqui com o teu Tigrão. Vou te jogar na cama e te dar muita pressão! Eu vou passar cerol na mão, vou sim, vou sim! Eu vou te cortar na mão! Vou sim, vou sim! Vou aparar pela rabiola! Vou sim, vou sim!"Ele pergunta: - Já é ou já foi? Ela responde: - Já é! Então o marmanjo solta outro pancadão: "Abre as pernas, faz beicinho, vou morder o seu *$%=@... Vai Serginho, vai Serginho... Vem minina num si ispanta, vô *$%=@ na tua garganta..." ou a não menos famosa “Meti na xana pa vê, meti na xana, meti na xana pá vê, meti na xana”. Isso sem contar aqueles marmanjos que enchem o carro (do pai, financiado em 287 vezes, coitado) de macho e ficam mexendo com as moças na avenida Júlio Assis, principalmente nos fins de semana (é sério, só você ir lá conferir) , berrando: "Ô gostosa, senta na minha #%¨#%¨@, vem pegar no %$#@ e balança, sua #$%%$)) ” e outras pérolas do gênero e, obviamente, tendo ao fundo aquela maravilhosa canção do MC Créu: “Pra dançar creu tem que ter habilidade. Eu venho te lembrar que ela não e mole não. Eu venho te falar que são cinco velocidades...”

Onde foi que nós erramos? Será que ainda é possível piorar?
Tenho receio do que virá no futuro...
Um país que já venerou Pixinguinha, astros da Velha Guarda e o maravilhoso rock nacional, ajoelha-se perante a esses verdadeiros lixos culturais, tais como Mc Créu e Dj Bola de Fogo.
Não quero aqui dar uma de calvinista e nem parecer idealizador de nenhuma seita religiosa fundamentada no “aquilo é certo e aquilo é errado” e se estou passando esta imagem aos leitores do blog, me perdoem. Mas é fato que o gosto musical do brasileiro anda de mal a pior. Qualquer porcaria é colocada em ritmo de funk na internet e cinco minutos depois todo mundo está ouvindo.
Qual é a saída? Como fazer para melhorar?
Como já escrevi anteriormente, gosto musical tem muito a ver com a intelectualidade da pessoa, mas será que temos tantas pessoas superficiais e sem o mínimo de crítica para discernir o que é bom e o que é ruim? Ou eu é que sou chato, afinal os tempos mudaram e ISSO é que se chama de música inteligente?
Cada um tem a sua opinião e tenho até medo de parecer piegas ao dizer tais palavras, mas vocês já repararam que as pessoas que curtem esse tipo de som nunca pegaram um livro na mão, pensam que o Barack Obama é astro de Hollywood e ficam vidradas nas novelinhas das nove ou no ridiculamente imbecil Big Brother?

Esses dias ouvi minha irmã cantarolando "Má qui homi gostoso vem, qui vem quero dinovo...". Eu disse pra ela: "Mas com tanta música boa, você vem me escutar isso?". Numa tentativa de mudar sua opção musical enquanto ela é nova, mas sabe o que é o pior? Ela não ouviu nada do que eu disse: tava com um fone no ouvido rsssss.

E isso que falei pra ele, pelo menos imagino, é verdade. Aqui em Beltrão mesmo temos grandes músicos e ótimas bandas que não tocam em lugar nenhum, limitam-se às garagens de suas casas, sem o mínimo de divulgação e estão fadadas a extinção. Sei pouca coisa de música e uma vez tentei aprender violão, mas não passei dos primeiros seis meses de aula. Entretanto, creio que no dia em que nossas crianças tiverem aula de educação musical nas escolas, poderemos ter um país melhor, ou, pelo menos, mais inteligente.

4 comentários:

Anônimo disse...

eu achei o texto muito bom (:

Anônimo disse...

parabens pelo blog...
Na musica country VIRGINIA DE MAURO a LULLY de BETO CARRERO vem fazendo o maior sucesso com seu CD MUNDO ENCANTADO em homenagem ao Parque Temático em PENHA/SC. Asssistam no YOUTUBE sessão TRAPINHASTUBE, musicas como: CAVALEIRO DA VITÓRIA, MEU PADRINHO BETO CARRERO, ENTRE OUTRAS...
é o sonho eterno de BETO CARRERO e a mão de DEUS.

IkkeDJ disse...

E não é por causa de falta de músico bom não.

É O POVO BRASILEIRO que está QUERENDO ouvir este
"forró cafonejo trash"

Mas não adianta... Se você der salmão para o mendigo, ele vai jogar tudo fora, revirar o lixo e pegar a bituca de cigarro usado...

O público brasileiro está no mesmo nível do mendigo, e cada vez pior...

Anônimo disse...

Estava procurando por um blog que falasse de música underground como júpiter maçã e cidadão instigado e encontro essa aberração de blog. O autor coloca a definição de underground no topo do blog e venera grande ícones da música, o que já não é nada underground. Mas este não é o problema. O problema é que no Brasil ainda existam pessoas suficientemente preconceituosas como você para escrever tamanha bobagem. Quer dizer então que o senhor acha que a música brasileira está em decadência? É que você é o tipo de mauricinho criado assistindo filme legendado, odiando axé, pagode e tudo mais que afete a sua estima de "classe média estudada". O que você procura é se diferenciar do pobre seja através da música ou dos costumes pra valorizar a sua classe decadente. Cara, o morro precisa ter voz, essas músicas são expressão do povo. Você não é ninguém para julgá-los.
*Antes que você diga qualquer coisa, sou historiado e sociologo.